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IA, saúde mental e reestruturação marcam segundo dia da XIV Conferência Regional

04/08/2025

O segundo dia da XIV Conferência Regional da Fetrafi Nordeste, realizado neste sábado (2), foi marcado por debates de densidade política, social e econômica. As mesas temáticas colocaram no centro da discussão os impactos da inteligência artificial na organização do trabalho, o adoecimento crescente da categoria bancária e os riscos trazidos pela terceirização e pela bancarização digital. Foram reflexões que, embora situadas na realidade bancária, atravessaram temas de interesse geral da sociedade.

Pela manhã, a mesa Inteligência Artificial, Transformações no Trabalho e o Futuro da Categoria Bancária trouxe alertas e provocações. O palestrante convidado, José Vital, apresentou um panorama histórico e crítico do avanço tecnológico, destacando que a velocidade das mudanças provocadas pela IA não permite à classe trabalhadora o mesmo tempo de reação que teve em revoluções anteriores. “O que antes levava décadas, hoje acontece em poucos meses. A luta por regulação e proteção social precisa ser imediata”, afirmou.

O presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará, José Eduardo Marinho, destacou o papel da categoria bancária como uma das mais impactadas pelas transformações digitais: “Os dados são a moeda dos novos tempos, e a IA já faz parte de todos os cenários do nosso cotidiano. Nosso desafio é organizá-la a nosso favor, e não sermos engolidos por ela.”

Carlos Eduardo Bezerra, presidente da Fetrafi/NE, ressaltou que o tema foi escolhido com base em uma escuta ativa da base e enfatizou a responsabilidade do movimento sindical diante dessa nova realidade. “Enquanto o capital investe bilhões em inteligência artificial, os sindicatos são os únicos capazes de organizar a resistência e defender um projeto de transformação social. O enfrentamento das bigtechs é também uma disputa por soberania.”

À tarde, a conferência seguiu com a mesa Saúde Mental e Condições de Trabalho no Sistema Financeiro, que reuniu relatos comoventes e denúncias sobre o sofrimento psíquico da categoria. Fabiano Moura, presidente do Sindicato de Pernambuco, apresentou os resultados de um dossiê produzido em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco. “Estamos falando de um sistema que adoece em silêncio e em massa. Precisamos transformar esse problema invisível em pauta pública, porque não existe ambiente de trabalho neutro: ou ele liberta, ou ele adoece.”

Entre os diversos relatos trazidos durante a mesa, destacaram-se as denúncias de práticas abusivas, como a criação de “salas brancas” para bancários reintegrados após licença médica, a imposição de metas inalcançáveis e o assédio institucional naturalizado no cotidiano das agências. A dirigente Sandra Trajano (PE) chamou atenção para a necessidade de fazer da indignação uma ferramenta política: “Não podemos mais aceitar que os bancos neguem sua responsabilidade. Precisamos fazer da nossa dor uma plataforma de mobilização e mudança.”

A dirigente Cândida Chay (PE) reforçou que esse debate precisa ser ampliado e territorializado: “Temos que levar esse tema para cada agência, cada local de trabalho, cada dirigente sindical. A saúde mental da nossa categoria não pode mais ser tratada como um tabu.”

Encerrando a programação do dia, a mesa Emprego, Terceirização e Bancarização Digital abordou os impactos estruturais do desmonte dos direitos trabalhistas, das transformações tecnológicas e do avanço da financeirização. O técnico do Dieese, Reginaldo Aguiar, apresentou dados econômicos que ilustram a estagnação produtiva do país diante de um sistema financeiro voltado à especulação. “Separaram a economia da política e da moral. Mas não há como pensar em crescimento sem um projeto nacional de desenvolvimento que coloque o Estado como indutor”, afirmou.

O presidente do Sindicato de Campina Grande, Esdras Luciano, alertou para o esvaziamento da presença física dos bancos em regiões interioranas e os riscos de exclusão social. “A digitalização sem compromisso social está nos afastando da população. Precisamos reafirmar o papel dos bancos públicos como instrumentos de inclusão e desenvolvimento.”

Na mesma linha, o presidente do Sindicato de Alagoas, Márcio dos Anjos, apontou a urgência de reverter a lógica da precarização. “Estamos assistindo a uma corrosão silenciosa dos nossos direitos. O avanço da terceirização e da IA não pode significar a substituição da dignidade pelo lucro.”

Ao fim dos debates, os delegados e delegadas presentes votaram e aprovaram uma série de moções políticas que sintetizam os posicionamentos da conferência:

  • Moção de apoio às decisões do STF relacionadas aos atos golpistas de 8 de janeiro – aprovada com duas abstenções;
  • Moção de repúdio ao genocídio em Gaza – aprovada por unanimidade;
  • Moção de repúdio ao teto imposto ao Saúde Caixa – aprovada por unanimidade;
  • Moção de encaminhamento da sistematização de todos os debates realizados na conferência para a etapa nacional – aprovada por unanimidade.

A programação continua durante a manhã do domingo, dia 3 de agosto.

Fonte: Fetrafi/NE

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