Brasil celebra o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra com foco no combate às desigualdades e na valorização do povo negro
19/11/2025
Pelo segundo ano como feriado nacional, o 20 de Novembro reforça a resistência histórica do povo negro e evidencia desigualdades persistentes em trabalho, renda, violência e oportunidades

Nesta quinta-feira (20), o Brasil celebra o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, pela segunda vez como feriado nacional, oficializado pelo presidente Lula (PT) em 2023. A data, criada para homenagear Zumbi dos Palmares, Dandara e todos que resistiram à escravidão, tornou-se um momento essencial para refletir sobre o racismo estrutural e reafirmar a luta por igualdade racial.
O 20 de novembro foi instituído inicialmente em 2011, no governo da presidenta Dilma Rousseff (PT), e desde então se consolidou como um dos principais marcos da agenda antirracista no país.
O que significa celebrar o 20 de Novembro?
A data cumpre múltiplas funções: homenageia a trajetória de resistência do povo negro, recupera memórias apagadas pela história oficial e escancara desigualdades que seguem vivas desde a escravidão. Como aponta o Boletim Especial do Dieese (2025), as desigualdades entre negros e não negros não são acidentais, mas estruturais, resultado direto da escravização e da ausência de políticas públicas de inclusão após a abolição.
Logo após a abolição, negras e negros foram lançados à própria sorte, sem acesso à terra, educação, moradia ou direitos trabalhistas — um processo que moldou as disparidades que persistem até hoje.
Brasil é um país negro — mas a desigualdade segue como regra
Segundo o estudo População Negra – Brasil e Regiões 2025, a população negra representa 56,4% dos brasileiros, cerca de 120 milhões de pessoas, sendo maioria em todas as regiões, com exceção do Sul.
Mesmo assim, os indicadores sociais e econômicos mostram que a cor da pele segue determinando oportunidades, salários e condições de vida:
- Mulheres negras: 23,9 milhões — maioria entre os desocupados e trabalhadores informais.
- Homens negros: 32,8 milhões — também maioria entre ocupados e desempregados.
- Taxa de desocupação da população negra: 6,5%, acima da média nacional (5,8%).
- Desocupação entre mulheres negras: 8,0%, o dobro da taxa dos homens brancos.
A desigualdade se expressa de forma contundente na renda:
- Mulheres negras ganham 53% menos que homens brancos — uma diferença anual de R$ 30.800, segundo o Boletim do Dieese.
- Entre trabalhadores com ensino superior, a defasagem chega a R$ 58 mil por ano.
- Homens negros recebem 41,1% menos que homens não negros, mesmo realizando trabalho semelhante.
O estudo também revela que:
- 39% das mulheres negras estão na informalidade — contra 31% dos homens brancos.
- 49% das mulheres negras ganham até 1 salário-mínimo.
- A população negra ocupa apenas 33% dos cargos de gerência e direção no país.
- Mulheres negras: base da sociedade, alvo da desigualdade.
O Dieese mostra que as mulheres negras sustentam 30% dos lares brasileiros, mas continuam sendo o grupo mais explorado e menos remunerado.
Elas acumulam trabalho remunerado e não remunerado, sendo responsáveis pela maior parte dos cuidados familiares — crianças, idosos e pessoas com deficiência — o que restringe sua permanência no mercado formal.
Entre as profissões mais comuns estão:
- trabalhadoras domésticas (1ª posição),
- limpeza de edifícios,
- balconistas,
- cozinheiras,
- cuidadoras de crianças,
- profissionais da beleza.
Muitas dessas ocupações pertencem à chamada “economia do cuidado”, historicamente desvalorizada e mal remunerada.
Racismo estrutural e mercado de trabalho: um desafio histórico
A apresentação “Participação de Negros e Negras no Mercado de Trabalho” reforça que a exclusão racial não é um fenômeno recente: ela começa na escravidão e se perpetua pela ausência de políticas públicas que integrem a população negra ao trabalho formal e à educação de qualidade.
Os efeitos dessa herança são claros:
- ingresso tardio no mercado formal,
- maior informalidade,
- altos índices de subutilização,
- dificuldade de ascensão profissional,
- salários mais baixos,
- menor presença em cargos de gestão.
O relatório também mostra que, mesmo após políticas afirmativas e avanços sociais, a cada ano a desigualdade racial se reproduz nos indicadores: mulheres negras e homens negros permanecem entre os grupos mais vulneráveis e com as piores remunerações.
Violência: a face mais brutal do racismo
A violência letal no Brasil também tem cor. Segundo dados citados na apresentação do Dieese:
- a chance de uma pessoa negra ser morta por intervenção policial é 3,5 vezes maior que a de uma pessoa branca;
- mulheres negras são 63,6% das vítimas de feminicídio;
- jovens negros de 18 a 44 anos são os que mais sofrem com violência doméstica e urbana.
Além disso, negros são a maioria entre vítimas de roubos e furtos de celulares, demonstrando como a vulnerabilidade social também amplia a exposição à violência.
“O Dia da Consciência Negra é compromisso com o presente e o futuro”, diz Almir Aguiar
O secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, reforça que o 20 de novembro é uma convocação para ação permanente. “Celebrar Zumbi e Dandara é reconhecer a enorme contribuição da população negra e, ao mesmo tempo, denunciar as desigualdades que atravessam a nossa história até hoje. O movimento sindical tem um compromisso com a luta antirracista. Isso significa lutar por igualdade salarial, oportunidades reais, representatividade e políticas públicas que enfrentem o racismo estrutural em todas as suas dimensões. O 20 de Novembro não é só memória — é responsabilidade, é mobilização, é futuro.”
Rumo a um Brasil antirracista
O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra é mais do que um feriado: é uma ferramenta de transformação social. É um dia que chama o país a reconhecer que:
- não existe democracia plena com desigualdade racial;
- não existe desenvolvimento econômico sem justiça social;
- não existe futuro possível sem enfrentar o racismo estrutural em todas as esferas.
Como mostram os estudos do Dieese, negros e negras continuam movendo o Brasil — mas seguem sem receber o reconhecimento, os direitos e as oportunidades que merecem. O 20 de Novembro nos convida a mudar essa realidade não apenas na data, mas todos os dias.
Fonte: Contraf-CUT
