Após melhor ano em ganhos reais, Dieese vê problemas nas campanhas em 2011
18/03/2011 - Por Bancários CGR
Em 2010, as campanhas salariais pesquisadas pelo Departamento  Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)  conseguiram o maior número de aumentos reais (acima da inflação) da  série histórica. A previsão para este ano, porém, é de um grau maior de  dificuldade, pelas perspectivas de crescimento menor e de aumento da  inflação. 
 
 O coordenador de relações sindicais do instituto, José Silvestre Prado  de Oliveira, vê em 2011 um ano "espremido" entre 2010, "que foi muito  bom", e 2012, "que deverá ser melhor que 2011". No ano passado, 95,6%  dos acordos foram fechados com reajustes acima ou equivalentes à  inflação.
 
 De 700 acordos pesquisados, 621 (88,7%) ficaram acima da variação do  Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC-IBGE), usado como  referência nas negociações. Foi o maior percentual de aumentos reais  desde que o levantamento começou a ser feito, em 1996.
 
 Outros 49 acordos (7% do total) foram fechados com reajustes  equivalentes ao INPC e 30 (4,3%) ficaram abaixo da inflação. Também  aumentou a magnitude dos aumentos reais: 15% resultaram em ganhos três  pontos percentuais acima da inflação, ante 5% em 2009 e 4% em 2008.
 
 Segundo Silvestre, desde 2004 se observa uma tendência de crescimento  dos acordos com reajustes acima da inflação. "Do ponto de vista do ganho  real, 2010 foi o melhor ano da série. Coincidentemente ou não, foi o  melhor resultado do PIB", observou o economista. Em 2010, a economia  cresceu 7,5%, para uma inflação média de 4,9%.
 
 Além do crescimento da economia, a inflação é uma variável fundamental  para explicar o comportamento dos reajustes, lembrou o técnico. "Além,  obviamente, da ação dos sindicatos", acrescentou. Assim, a perspectiva  de crescimento menor do PIB este ano e de inflação maior, mais o aperto  no crédito e a redução do consumo das famílias, compõem um cenário de  dificuldade adicional para as negociações salariais.
 
 Estratégia
 
 "Acho que o movimento sindical não vai recuar da estratégia de continuar  batalhando por ganho real", aposta Silvestre. Ele acredita que este  será um ano de "aumentos reais sem a mesma magnitude (de 2010)". Por  outro lado, há uma expectativa de expansão dos investimentos, devido a  fatores como Copa do Mundo, pré-sal, Programa de Aceleração do  Crescimento (PAC) e Olimpíadas de 2016.
 
 Do total, 346 foram da indústria (49,4%), 239 no setor de serviços  (34,1%) e 115, no comércio (16,4%). De acordo com o Dieese, a maior  parte (598, ou 85,4%) refere-se a convenções coletivas de trabalho,  fechados entre entidades de trabalhadores e empresariais, enquanto 102  (14,6%) foram acordos coletivos, assinados com uma empresa ou um grupo  de empresas. 
 
 Doze negociações foram feitas nacionalmente. A maior concentração de  datas-base está no mês de maio: 187, ou 26,7%. Nesse mês, predominam as  negociações de sindicatos de trabalhadores na construção civil e no  setor de transportes.
 
 Dos acordos fechados na indústria, 90,5% ficaram acima do INPC e 6,9%  empataram com a inflação. O índice de acordos abaixo do INPC foi de  2,6%, o menor de todos - em 2009, esse percentual chegou a 7,8%. 
 
 Para Silvestre, foi mais um sinal de recuperação do setor mais atingido  pela crise de 2008. Entre os aumentos reais, 7,5% ficaram quatro pontos  acima do INPC, ante 1,8% nos dois anos anteriores. De 10 segmentos  industriais, seis (construção/mobiliário, extrativista, gráfico,  metalúrgico, químico/farmacêutico e fiação/tecelagem) tiveram acordos  com a totalidade de aumentos reais.
 
 No comércio, 95,7% dos acordos superaram a inflação e 0,9% equivaleu ao  INPC, enquanto 3,5% ficaram abaixo. Por fim, nos serviços 82,8% dos  acordos salariais ganharam do INPC e 10% corresponderam à variação do  índice, enquanto 7,1% perderam. Também entre 10 segmentos, um (bancos e  seguros privados) só fecharam acordos com aumentos reais.
 
 A grande maioria dos acordos (95,3%) foi fechada de uma só vez, sem  parcelamento. Quase 20% foram escalados por faixa salarial e 12% foram  acrescidos de abono. "Os abonos salariais de 2003, na sua maioria eram  para compensar o não pagamento da inflação total. Agora, vão além  disso", comparou o técnico.
 
 Ele também destacou o impacto do salário mínimo na economia. Impacto que  este ano não deverá ocorrer, já que o aumento foi praticamente igual à  inflação.
 
 Considerado o triênio 2008/2010, o padrão se mantém: 88,6% dos acordos  acima do INPC, 1,7% equivalentes à inflação e 9,7% abaixo.
Fonte: Vitor Nuzzi - Rede Brasil Atual
